A origem da palavra Lusíadas – Conta a lenda que Luso, filho de Baco, deus do vinho, fundou,
no extremo ocidental da Península Ibérica, um reino, ao qual deu um nome derivado do seu:Lusitânia.
Na realidade, quando os Romanos se estabeleceram na Península Ibérica, por uma questão
administrativa, dividiram-na em três províncias, conservando o nome Lusitânia para toda a
região compreendida a sul do Rio Douro.
No século XVI, os escritores nacionais começaram a usar a palavra Lusitanos como sinónimo de
Portugueses, o que foi aproveitado por Camões.
Foi com base nisso que o poeta criou uma palavra nova que iria dar nome à sua obra épica: Os
Lusíadas, ou seja, o Povo de Luso – os Portugueses.
A Proposição aponta para os quatro planos do poema:
1. O Plano da Viagem - celebração de uma viagem:
"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além da
Tapobrana...";
2. O Plano da História - vai contar-se a história de um povo:
"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando
/ A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia...";
3. O Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) - ao qual os Portugueses se equiparam:
"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte
obedeceram...";
4. O Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:
"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e
arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".
Invocação (C. I, 4-5)
4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.
5
Dai-me ũa fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Invocar significa apelar, pedir, suplicar.
Na Invocação, Camões dirige-se às Tágides, as ninfas do Tejo, pedindo-lhes que o ajudem a cantar os feitos dos portugueses de uma forma sublime:
“Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,”
Tratando-se de um pedido, a Invocação assume a forma de discurso persuasivo, onde predomina a função apelativa da linguagem e as marcas características desse tipo de discurso – o vocativo e os verbos no modo imperativo - determinam a estrutura do texto:
E vós, Tágides minhas, (...)
Dai-me (...)
Dai-me (...)
Dai-me (...)
O poeta pede às Tágides o estilo elevado que a epopeia e a grandiosidade do assunto requerem; o " som alto e sublimado ", exigido pelo " novo engenho ardente " que as ninfas colocaram nele. Como poeta experiente que é, sabe que a tarefa a que agora se propôs exige um estilo e uma linguagem de grau superior, por isso estabelece ao longo das duas estâncias um confronto entre a poesia lírica, há muito por ele cultivada, e a poesia épica, a que agora se abalança.
POESIA LÍRICA | POESIA ÉPICA |
verso humilde agreste avena frauta ruda | novo engenho ardente som alto e sublimado estilo grandíloco e corrente fúria grande e sonorosa tuba canora e belicosa |
Dedicatória
A dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia. Camões inclui-a n’Os
Lusíadas ao dedicar a sua obra ao rei D. Sebastião.
Nessa altura, D. Sebastião era ainda muito jovem e por isso era visto como a esperança
da pátria portuguesa na continuação da difusão da fé e do império.
D. Sebastião, rei de Portugal de 1568 a 1578, foi o penúltimo rei antes do domínio
espanhol (1580-1640). O seu prematuro desaparecimento numa manhã de nevoeiro na batalha
de Alcácer Quibir deu origem ao mito sebastianista, um sentimento muito português, que nasceu
de uma lenda e que tem povoado o imaginário coletivo do nosso povo, ao longo dos séculos.
Para além do elogio ao rei, Camões pretende convencê-lo a aceitar o seu canto, por isso
recorre a uma linguagem argumentativa, sendo a função de linguagem predominante a apelativa.
O poeta recorre a numerosos vocativos, apóstrofes e ao uso frequente do modo imperativo. Há
quem considere que o discurso da Dedicatória segue a estrutura própria do género oratório.
O poeta chama constantemente a atenção do seu destinatário, D. Sebastião, para o que o poema vai celebrar.
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