Cronista de D. João I, guarda-mor das escrituras da Torre do Tombo, é a figura mais importante da literatura portuguesa medieval.
Conhecido cronista português, Fernão Lopes deu-nos a conhecer uma nova conceção da História, marcada sobretudo pela imparcialidade que se esforça por manter.
A sua importância reside no cuidado em fundamentar a escrita historiográfica em provas documentais, assim como no talento de que dá provas como escritor, descrevendo com minúcia e vivacidade as movimentações de massas (sobretudo durante as sublevações de apoio ao Mestre de Aviz, em Lisboa) e algumas cenas dos eventos que regista, incluindo diálogos, o que consegue não só com remissões a testemunhos fidedignos, mas também com uma capacidade de manejar a linguagem que coloca a imaginação ao serviço da verdade, de que acaba por se não excluir.
As suas crónicas transbordam de visualidade, realismo descritivo e dramatização, que a par de uma simplicidade linguística a todos atrai. A Crónica de D. João I é considerada uma obra-prima.
Abolindo a barreira do tempo, faz ressurgir o passado, permitindo aos leitores viver com ele acontecimentos que alteraram profundamente a sociedade portuguesa. Fernão Lopes foi apelidado de "pai" da História Portuguesa. E, de facto, este cronista/historiador teve uma importância fulcral para a História e Cultura de Portugal.
Presume-se que tenha nascido por volta de 1380, oriundo das camadas populares, da arraia-miúda. Essa origem humilde teria inclinado Fernão Lopes a conceber o povo como um dos protagonistas desse imenso drama que é a história de uma Nação.
Em 1434 foi promovido por D. Duarte ao cargo de Cronista-Mor do Reino, encarregado de “poer en cronyca as estórias dos Reys que antyguamente en Portugal foran“, ou seja, encarregado de contar a história dos reis de Portugal. Exerceu esse cargo até 1454, quando foi substituído por Gomes Eanes de Zurara (ou Azurara). Parece ter vivido até 1459 ou 1460.
Expressando-se em um estilo elegante, elaborado, mas sóbrio, sem maneirismos ou afetações, Fernão Lopes é também o primeiro prosador português de quem se pode dizer que o estilo identifica o homem.
As marcas dessa individualização revelam-se:
- na expressão vibrante e arrebatadora, próxima da epopeia;
- na plasticidade das descrições, que permitem uma visualização palpitante das cenas;
- na capacidade de prender a atenção do leitor em um suspense contínuo, com ações simultâneas, cortes abruptos na narrativa, digressões;
- na habilidade dos diálogos que conferem dramaticidade às ações e revelam qualidades teatrais;
- na densidade dos retratos psicológicos das personagens que presentificam na imaginação do leitor os vultos históricos do passado;
- na combinação de feitos individuais e de movimentos de massa na mesma unidade de ação, fazendo convergir acontecimentos múltiplos para um desfecho;
- no ardor polémico em que se alternam o tom colérico, indignado e o tom irónico, depreciativo;
- uma linguagem sóbria, cuidada, às vezes próxima do coloquial.
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